domingo, 26 de setembro de 2010

MARTINHO























As ruas provincianas, poeirentas e de pedras gastas, lhe davam agora mais prazer que as avenue de Paris. Voltava de lá pela terceira vez e confessava a si mesma que não via na capital francesa mais novidades. Era com prazer que agitava o leque para amenizar o tórrido calor brasileiro. Lembrou-se então de como este pequeno e elegante utensílio _o leque _era um detalhe tão importante em sua vida. Distinguia seu trabalho, era a senha para seus clientes, era quem amenizava o calor do sol e das noites de fúria e ganho.
Seu sorriso estava permanentemente presente em seus lábios pequenos. Os cabelos tingidos de loiro, estavam impecavelmente arrumados, caindo-lhe enrolados em belas madeixas sobre as costas. O chapeuzinho elegante, de suave tom vermelho salmão, combinando perfeitamente com o vestido de mesma cor, dava um toque de "inocência" à sua imagem indiscutível de coquete. Na mão direita, coberta pela luva bordada, a sombrinha completava o conjunto, dando uma iluminação translúcida e suavemente vermelha a sua figura.
Dirigia-se à loja de seu Oliveira, amigo de longa data, de quem encomendaria uma bela peça de bacalhau para a páscoa. Iria aproveitar o feriado cristão para comemorar sua volta, dando uma singela, porém copiosa, festa a seus mais afeiçoados clientes. Mal avistou a pequena instalação do português e já lhe apareceu diante dos olhos aquela figura forte e séria: Martinho. Vestido de camisa branca e colete cinzento _que lhe davam uma elegante dignidade _o negro estava suado, baixando uma enorme caixa de madeira, recheada de peras. Ergueu-se, limpou o suor da testa com o braço e olhou em volta. Já não era tão jovem para o cafezal, 27 anos. Por conta disso, fora alforriado, como era praxe fazerem os fazendeiros, sempre atentos em ser livrar de mão de obra cansada. Seu Oliveira o contratara por um salário baixo, pouco mais que o jornal de um escravo urbano, fora moradia e comida. Martinho, enquanto negro recém alforriado, podia se considerar feliz com a gentileza do lusitano.
Contemplando a rua e respirando ofegante, Martinho não tardou a detectar a figura de Nanette, que se destacava avermelhada como uma ameixa sob a luz da manhã ensolarada de verão. Ela se aproximava analisando-o dos pés à cabeça. O sorriso malicioso nos lábios pequenos, os olhos verdes brilhando de excitação lúbrica. Parou então diante dele e saudou-o:
_Bom dia! Não sabia que Atlas era negro e trabalhava para seu Oliveira, rs...
_Bom dia... "Num" entendi senhorinha...
_Esqueces, rs... Antes me dizes como te chamas.
_Martinho, senhorinha...
_Martinho, chama teu patrão e dizes a ele que Nanette está aqui para revê-lo.
_Pois não, senhorinha!...
Martinho corre para chamar o patrão, porém não sem olhar novamente para trás, para ver aquela figura linda e encantadora, que parecia exalar uma estranha malícia, junto com seu perfume francês. Não tardou para que o calvo e bigodudo português aparecesse cheio de alegria e carinho.
_Nanette!!! Nanette, minha flor do campo! Como me chegas assim de repente, afogueando-me o coração!... _abraça-a e a beija no rosto como um pai a uma filha muito querida.
_Ô, seu Oliveira!... Muitas saudades do senhor! _beija-lhe então a testa calva.
_Linda como sempre! Pareces uma rosa vermelha!
_Rsrsr...
_Vem, minha rosa, entras que o sol está a ferver. Vem tu também, ó Martinho!
A mercearia estava agitada como de costume. E como de costume as velhas senhoras e moças de família olhavam Nanette atravessado. Como resposta ela sorria e ria com leviana e elegante malícia, deliciando-se em ser o acinte daquela pequena e insignificante comunidade. Seu Oliveira falava animadamente, contando-lhe todas as novidades que lembrava e mostrando-lhe todos os novos produtos que dispunha.
_Vê, Nanette! Estás peças de bacalhau acabaram de chegar. Estão como gostas!
_Humm... Me dão água na boca! _responde Nanette olhando para as peças e depois olhando para Martinho com o mais malicioso sorriso do mundo nos lábios. O negro apenas mantinha-se sério, limitando-se a olhá-la com o canto do olho.
_Dizes quantas postas queres levar agora, minha flor!
_Estou um pouco apressada seu Oliveira, fiquei de visitar dona Carmelita, rs... O senhor bem sabe do que gosto. Faça para mim uma boa cesta com bacalhau, vinho, frutas e tudo o mais que o senhor sabe que aprecio e mande Martinho levar em minha casa à hora da merenda.
_Pode deixar, minha flor. Martinho estará lá à hora que determinastes.
_Se ele se demorar, não repare, seu Oliveira. É que sempre sirvo a merenda para quem chega em minha casa nesta hora... rs... O senhor também poderia cedê-lo a mim, por algumas horas, para que ele arrume umas mercadorias que trouxe de Paris. Estão em caixotes e o serviço é pesado tanto para mim, quanto para minha criada.
_Como se não conhece teu coração bondoso, e tuas urgências, minha flor. Permito que Martinho merende em tua residência e que te faça este serviço. Mas quero que ele esteja de volta aqui antes da hora de fecharmos.
_Ele estará sim, não é Martinho? _diz Nanette sorrindo maliciosamente para o negro.
_Sim, sinhorinha. _responde Martinho já quase tremendo.
Nanette despediu-se de seu Oliveira com o tradicional beijinho na testa calva e, sem que o português notasse, deu uma piscadinha maliciosa para Martinho. Que já fervia por dentro, por apenas vislumbrar o sorriso sedutor da coquete.
Às três da tarde, em ponto, lá estava Martinho com um generoso cesto preparado por seu Oliveira. Bateu palmas diante do sobrado da coquete, que apareceu à sacada vestida com uma longa camisola rosada _que se colava ao corpo _mostrando as curvas das ancas e dos seios. Suas pernas brancas e roliças, se insinuavam, ousadas, pela abertura a frente.
_Entra, Martinho! Ana Rita já está abrindo a porta.
O negro olhou para frente e percebeu que uma mucama já lhe sorria com a porta aberta. Carregou o cesto e entrou, pedindo licença da negra de meia idade. Esta lhe sorria largamente. Sabia que sua ama iria lhe dar boas horas de folga naquela tarde. Para adiantar tudo, conduziu Martinho apressadamente para a cozinha e esvaziou o mais rapido possível o cesto, pondo toda mercadoria em suas devidas acomodações. Sem que ele pedisse, logo lhe serviu café e bolo de milho. Mal o negro sentara na mesa e começara a comer, Nanette desceu toda rosa e perfumada. Seu sorriso sedutor fez Martinho queimar por dentro. Ela aproxima-se dele e o acaricia, roçando suas longas unhas na nuca suada.
_Isso, Martinho. Ficas à vontade e te alimenta. Tens muito serviço hoje à tarde, rsrs...
O negro se limitava a comer. Comeu bem, pois estava com fome e a merenda era generosa. Nanette ficava por ali, dando pequenas ordens para Ana Rita e, por vezes, cochichando e soltando leves risos com a mucama. Por fim, Martinho parou de comer e Nanette viu o momento que tanto esperava.
_Acabaste, Martinho?
Martinho limitou-se a menear a cabeça afirmativamente.
_Então sobes ao meu quarto, quero que carregues umas coisas para mim. _ordena com um sorriso lúbrico nos lábios.
Os dois sobem as escadas e a mucama corre para trancar todas as portas. Martinho segue a coquete e adentra em sua alcova, onde imperavam tons rosados. Mal entra, ouve Nanette fechar e trancar a porta atrás de si. Volta-se e treme... A coquete já estava com a camisola aberta, mostrando as delícias de seu corpo branco: seus seios médios, de bicos rosados, sua vulva inchada, de pelos crespos e castanhos _que contrastavam com o loiro falso de seus cabelos _ e as coxas grossas e roliças.
O negro olha tudo sentindo o sangue ferver. Nanette toma sua mão, carinhosamente, e o puxa suavemente para a cama, com seu característico sorriso lúbrico nos lábios.
_Vem! Vem comigo! Rsrsrs... Vamos folgar esta tarde. Temos toda a tarde para nós... _convida já tirando a camisa do ex-escravo.
Martinho estava hipnotizado. Era conduzido como um mero instrumento por Nanette. Esta deitou-se na cama macia e o puxou suavemente para cima dela. Sua leve força era o suficiênte para manipulá-lo. Ele simplesmente deitou-se sobre ela e já a abraçou-a e beijou-a com força, tomado pelo desejo. Sua boca queria devorá-la toda, seus lábios, sua língua, seu pescoço, seus seios, sua barriga, tudo! Ela era sua ama agora... Era cativo novamente.
Senhora de seu garanhão, Nanette se escorria entre as pernas de tanta delícia. O cheiro, o calor, a força, o desejo de seu "escravo" a tomavam como nenhum absinto ou mesmo o ópio jamais o fariam. Quando ele começou a abocanhar suas coxas, ela tremeu toda. Quando ele se alimentou, faminto, de seu sexo, ela delirou:
_Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhh!!!... Vai, me mata! Me mataaaa!...
O gozo foi quase instantâneo. Mas ela não se deu por vencida... Descançou um pouco enquanto ele beijava seus pés. Deleitou-se um pouco com isso e depois o puxou para si:
_Vem, te quero dentro de mim!
Ele simplesmente abaixou as calças e enterrou o membro rijo em sua vulva macia. Com as pernas arreganhadas, Nanette gemeu:
_Ummm-aaaarrr...
Martinho a possuia sem piedade. Entrando e saindo de dentro dela como um cavalo descontrolado. O perfume dela, a maciês de sua pele, a firmeza de sua carne, seu olhar meloso, tudo isso o fez perder a si mesmo... e gozar profuzamente:
_Aaaaaaaaaaaaaahhhh!!! _gritou ele sentindo o sêmem bombear de seu membro.
Resfolegando feito uma cavalo que pára sua corrida, ele caia sobre ela, abatido.
Ficaram ali morgados por um tempo. Quando estavam mais recuperados, ela começou a acariciá-lo. Queria mais. Massageou seu peito e depois seu membro, com suas mãozinhas macias. O membro se enrigeceu novamente. Ela então baixou-se e começou a lambê-lo e beijá-lo. Passando os lábios delicados sobre a glande. Logo em seguida, o engoliu quase até o fim. Fazia movimentos de vai-e-vem com a cabeça, para cima e para baixo, enquanto acariciava os testículos de Martinho. Este, enlouqueceu, e a agarrou com força, pronto para estrupá-la. Ela, no entanto, o conteve. Pôs a mãozinha suave em seu peito e pediu docemente para que esperasse. Ficou então de quatro na frente dele. Ele arregalou os olhos. Olhando maliciosamente para trás, ela o convidou:
_Vem, meu garanhão, vem!...
Sem demora, ele a agarrou por trás e a possuiu como se ela fosse uma égua árabe, branca e ciosa. Metia e tirava com força fazendo-a balançar. Nanette simplesmente sorria em êxtase. Seu gozo veio quase de imediato, mal ele começou seus trabalhos. Ele também não tardou a gozar, bombeando sêmem dentro da vagina umedecida. Ele caiu sobre ela e depois tombou para o lado, abraçando-a. Ficaram ali, novamente morgados, deitados em concha.
Seu fogo porém ainda não se extinguira. Novamente ela o excitou com suas carícias de prostituta, com sua boca, e ficou de quatro em sua frente. Só que agora, abria as nádegas macias com as mãos e convidava, sórdida:
_Vem, me possui toda!...
_Mas sinhá... Isso é coisa de prostituta...
_Eu sou prostituta!... _revelou sem pejo.
Martinho congelou. Ela o reacendeu:
_Vem, meu cavalo! Me toma toda!...
Sem mais nenhum pudor, Martinho forçou seu membro na entrada secreta, apertada e rosada. Para auxiliá-lo, ela pôs um pouco de saliva em seus dedinhos mimosos, passou sobre o furinho e ainda introduziu o inidicador nele. Em seguida, encorajou-o:
_Vem, mete!
Ele então forçou de novo e o membro entrou. Deslizou todo para dentro.
_Himmmm... _gemeu ela mordendoos lábios inferiores, suportando a dor inicial.
Mas esta logo foi esquecida com os movimentos de vai-e-vem de seu cativo. Ele a sentia por dentro, macia, quente e apertada. Ela tremia ao tê-lo todo, totalmente, absolutamente dentro dela. Dera tudo a ele. Tudo! A França não a interessava mais, o Brasil era o Céu, o braseiro, o Inferno! Todo o calor que ela desejava... corporificado naquele pobre mas poderoso negro, que bombeava lava em suas entranhas e a levava ao paraíso...


Marcelo Farias. Ilustração: tela de Cândido Portinari.